23/12 - Kansas City

Um dia um tanto mortiço hoje, com poucas coisas para ver, e depois de um café da manhã meio pantagruélico no hotel, então também sem nem muita vontade de comer. Ficamos zanzando pra lá e pra cá, sem pressa, enfiando a cara em qualquer vitrine, procurando o que fazer, até chegar a hora do show de rock do dia seguinte. Este, conquanto pago, a Amtrak não nos faria perder.
Entramos mais tarde numa sorveteria, com uma inusualmente longa fila, o que me deu bastante tempo para sofrer com a conversão do que os 3,50 dólares por bola me custariam. 
E então, subitamente, sem aviso, sem sequer o aroma de mirra, incenso, quartzo ou feldspato se insinuando por sobre nossos ombros, ocorreu aquele momento em que a Graça do Senhor se faz presente, toda a existência se inunda de luz e bondade, e, se fosse possível o Espírito Santo estar ainda mais presente, provavelmente eu o sentiria tentando beliscar minha nádega: hoje era dia de sorvete grátis na loja! Uma bola de um sorvete de hortelã cremoso como o maná que goteja das entranhas mais recônditas da Ana Paula Arósio, presenteada a mim completamente de graça!
Mas tem mais! Quando Ele decide provar sua Presença, não na forma de um arbusto em chamas, porque isto seria muito Ricardo Salles, mas na forma de gratuidade oferecida a esta pobre e mesquinha alma, a sua Bênção é vigorosa, viçosa, priápica até! Ao entrar no ônibus para chegar à casa de espetáculo, nova surpresa: o transporte público em Kansas City também é gratuito! Sério, pra valer!
Mas meu amigo Albert, que dizia que sutil é o Senhor, mas malicioso ele não é, estava enganado não apenas a respeito da constante cosmológica. Aquela anta! O Senhor na verdade é a escrotidão em pessoa. Ou, neste caso, em três pessoas. Quando parece que ele está acariciando sua bunda para oferecer consolo, na verdade é apenas para relaxar seu esfíncter! Pelo show, que dizia o site que custaria 12 contos, nos foram cobrados 15. Sem contar que para cada bola de sorvete ou corrida de ônibus com que o destino nos presenteia, ele nos subtrai uma Little Shop of Horrors de 40 dólares, ou nos faz pagar prováveis 200 dólares por um teste de covid.
Na geriátrica audiência do show, entre umas 400 pessoas, UM negro e ZERO máscara, exceto pelas nossas. A caipirada aqui pega pesado. As portas dos estabelecimentos convidam meio envergonhadamente a bugrada a usar máscaras, com menos ênfase do que deixam claro que não são obrigadas a fazê-lo.


Quanto ao show em si, uma banda cover de músicas dos anos 70 abrindo para a apresentação de uma banda cover de anos 80, do tempo em que a cantora ainda era gostosinha, não destruída pelo vício na manguaça, sem a aparência atual de chacrete egressa do rehab. Mas, contrariando cada fibra de minha natureza, eu até dancei uns 10 segundinhos...













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