26/12 - Albuquerque


Mais um dia de escolhas pouco talentosas empobrecendo a experiência turística, quando não há ninguém da American Airlines, Greyhound ou Amtrak para fazê-lo por nós.


O dia começou com a apreensão sobre o que fazer com as infames mochilas, porque a gordinha do motelzinho de filme de assassinato de beira de estrada (neste caso, a rota 66) onde ficamos havia dito que não poderia guardá-las para nós após o check-out. Mas a coleguinha dela do plantão hoje, com uma cara de quem havia acabado de apanhar do marido, permitiu.

Para prestigiar os produtos locais, decidimos começar o dia com o centro cultural dos pueblos indígenas. 10 contos pra ver, como diria o capitão, cada um dos índios pesando no mínimo 5 arrobas, fazendo umas dancinhas com uma cara de tédio penetrante, profundo, aquele banzo da futilidade de existir. No museu, uns vasos de barro e congêneres exibidos com postura de orgulho e altivez. É a cultura de um povo, plenamente legítima, mas tudo me pareceu tão deflacionado, residual, meio triste por baixo de toda a narrativa de celebração.

E, como tudo fecha às 5, acabou não restando muito tempo para pingar mais 15 contos e visitar o museu de ciência e história nuclear, que parece que teria sido uma experiência bem mais rica.

Para não esmorecer da tradição das viagens e poder alimentar o queixume de sempre, rumamos então para um restaurante de buffet, para entupir o tubo digestivo de cima a baixo, e choramingar depois sobre a banha re-ganha após meses de dieta de fome.

Já fui mais talentoso nas orgias alimentares, e já empurrei comida garganta abaixo mais desenxabidamente. Mas a culpa é um poderoso oclusor de piloro, e com tanto tempo fazendo jejum meu estômago parece recentemente ter feito o que meu pênis já faz há bastante tempo: encolheu e se mostrou menos capaz de ser preenchido por grandes volumes. Ainda assim, puta lambança desnecessária e recriminável...

De volta aos busões, acabou a fase ferroviária da viagem. Com alguma horas ainda pela frente, aguardando a saída do veículo desta noite, após um alarme falso de que este estaria, mais uma vez, atrasado (!), A tia da Greyhound, se contorcendo para aparentar, tanto quanto possível a qualquer funcionário desta companhia, algo vagamente semelhante a alguma empatia e boa vontade, nos permitiu deixar as famigeradas mochilas ali num cantinho, de graça, e deu tempo de escapar por umas duas horinhas para ver peitinhos num clube de strip nas redondezas. Ali, pela segunda vez no dia, dançarinas, em alguns casos tão balofas, e com mais celulite, quanto os indígenas desta manhã, também exsudavam todo seu mortificante tédio, esfregando mecânica e desafetadamente suas xoxotas no mastro, enquanto uns marmanjos meio humilhados lhes enfiavam uns dólares na calcinha em retribuição por um xêro do pescoço e, provavelmente, covid.

Após duas pernas feitas em trens, mais rarefeitos de gente e com mais espaço interno, de volta a um ônibus sem ventilação, apinhado de gente juntinha, poucas pessoas usando a máscara alegadamente obrigatória, algumas delas tossindo, confesso estar me sentindo desconfortável.

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