01/01 - Las Vegas (epílogo)

E agora, fazendo o balanço, eita viagenzinha enfiada na bunda!
Ainda assim, melhor do que não ter feito nada, e ficado em casa passando calor, sentindo pena de mim mesmo por alguma coisa, motivos não faltam quando a vontade é grande, e economizando a pequena fortuninha que esta tragicomédia me custou, pra deixar de herança pra minha irmã antivax que certamente nada fez para merecê-la.

As grandes vilãs da viagem foram as mochilas, as distâncias, a covid.
Viajar sem bagagem não seria possível, mas não usei um terço das roupas que trouxe, inclusive meu impagável macacão jardineira, que eu pretendia tirar do ostracismo nesta viagem. Uma mochila com metade do peso teria sido viável, trazer este monte de roupas de frio a mais foi tipo um seguro que não precisou ser usado, mas, por falar em seguros, tampouco me fiei em outro que não aquele oferecido pela compra do bilhete aéreo. Por outro lado, se tivesse pago por um outro plano menos furreca, teria tido o gosto de receber uma graninha pelo atraso do voo inicial.
As distâncias sempre são um efeito colateral destas minha viagens para o meio de lugar nenhum. A aposta segura seria ir passar umas duas semanas em Nova Iorque ou em Londres, e ter o que fazer dia após dia sem sair da mesma cidade. Mas eu cismo em ir mijar no poste destas cidades que, com muito boa vontade, rendem dois dias de turismo, e aí não tem jeito senão ficar pipocando de um lugar para outro, e fazendo de conta que ainda tenho 20 anos e saúde e saco pra praticamente passar noite sim, noite não, dormindo sentado num assento de ônibus.
E teve a covid. Mas, até aí, quando deixará de ter? Já se vão dois anos nesta toada. A maldição da vida parece que vai durar para sempre, mas o que resta de juventude segue se esgotando, cada vez mais rápido.
Ainda não é um momento confortável para viajar. Estas máscaras com as quais acabamos nos acostumados no dia-a-dia do exasperante cotidiano parecem tão desagradáveis quando incorporadas na rotina de viagem. Por fim, os malparados testes para covid, que foram uma preocupação constante a partir da segunda metade da viagem e causaram tanta perda de tempo e paz de espírito: no final, no aeroporto a tia do check-in nada mais fez do que perguntar, de passagem, "vocês fizeram o teste? Ele está negativo, né?" Puta que o pariu, meu bom Deus...
Tudo posto, ainda não é um bom momento para viajar. Mas não sei se voltará a ser. Esta coisa de covid vai longe, e não se sabe com quais solavancos. Mesmo que este país consiga defecar o capitão para dentro de alguma penitenciária em 2022, o dólar não vai voltar a custar 1 real novamente.

E por falar em conteúdo intestinal, se vale pra alguma coisa além de deixar o blog menos interessante, não houve nesta viagem nenhum episódio de urgência evacuacional significativo.
Deve ser uma questão de física. À medida que o tempo passa, e a existência vai cada vez mais se confirmando uma merda asfixiante  e malcheirosa, a merda que habita o interior de nossos corpos perde pressão diferencial e força para explodir para fora deles. 

Com esta correria toda atrás de um exame de covid no final pouco levado a sério, mais montes de feriados, inclusive o de hoje, com as lojas do aeroporto, última esperança para conseguir fazer as compras pretendidas, fechadas, não comprei meu tablet novo e ninguém vai ganhar encomenda. Então você, sim, você, a única e especial pessoa que não saiu de minha saudade ao longo de toda a viagem, você sabe quem você é, prepare-se! Vai ganhar apenas um íma de geladeira porcaria!
Menção honrosa para a pobre alma desgraçada que se sujeitou a ininterruptos15 dias de minha pestilenta companhia, e se mostrou uma excepcional farejadora de chocolates perdidos pelo chão, observadora de coisas interessantes e importantes e fornecedora de boas ideias e soluções em geral.
Fico por aqui. Vamos lá, mais uma chance. É raro os aviões caírem, mas não inédito. E cedo com prazer a dádiva de ser o primeiro a morrer ao animalzinho que berra desesperada e desesperadoramente no banco aqui da frente aqui do avião, porque a mãe teve a brilhante ideia de procriar, sem me consultar sobre as possíveis consequências de seu ato. Até sei lá quando, amiguinhos.

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