22/12 = Kansas City

Ô, desgraça...
Hoje começa a perna ferroviária da viagem. Eu tava feliz: os trens são um pouco mais espaçosos, o rebotalho humano que os frequenta, um pouco menos desqualificado, as estações de trem, um pouco menos enojantes do que aqueles carandirus da Greyhound.
Aí você embarca num trem às 8 da manhã, esperando chegar 2 da tarde, todo alegre porque descobriu um show de rock de graça às 7 da noite, e o maquinista resolve entrar atrás de um trem de carga e ter que passar horas parado nos trilhos, ou se movendo mais devagar do que o meu doutorado, e chegar em Kansas City só 6 da tarde. Um dia inteiro enfiado no bunda, show de rock perdido, e apenas um pedido de desculpas, uma garrafinha de água de 150 ml e um pacotinho de salgadinho a título de cala-a-boca.
Pedidos de desculpas da American American Airlines. Pedidos de desculpas do imbecil do apartamento sem internet. Pedido de desculpas da Amtrak. A Greyhound nem desculpas pediu. 
Se cada um deles resolvesse me prestar favores carnais em vez de me pedir desculpas, eu já estaria com gonorréia neste momento, e não tão puto da vida.

A American atrasa, e a gente perde um dia de viagem, e o melhor programa cultural até o momento. A Greyhound atrasa e a gente fica lá horas naquela pocilga, cercado de indigentes pedindo dinheiro pra fumar crack. A internet não funciona, e o desgosto e indignação mancham o prazer da estadia num apartamentozinho que, de resto era bem maneiro. A Amtrak atrasa e a gente perde uma tarde de turismo e o show. E chega no hotel e descobre que a idiotinha vai cobrar a estadia no cartão, com 6% de IOF, porque não aceitam o dinheiro vivo que estamos carregando na bolsinha fazendo volume na pança, pedindo pra ser roubado. Dá a sensação de que, se tivesse decidido ir pra pra Botsuana teria me deparado com mais competência e profissionalismo.
Tenho dito a mim mesmo que eu podia ter feito a aposta segura e ido, sei lá, pra Nova York. Mas me meto a vir pra estes cus de mundo pra viver novas aventuras, e aventuras são assim, nem sempre têm final feliz. Se eu quisesse vida fácil, poderia ter simplesmente ficado em casa me queixando da fome de minha dieta. Mas uma hora dá no saco, a alma cansa, o entusiasmo fraqueja.
Pra tentar dar algum uso ao tempo entuchado no rabo, começamos a procurar onde fazer o maldito teste de covid para o voo de volta, e a coisa não está promissora. Lugares fechados devido ao ano novo, os abertos sem horários para agendar nestes dia, no aeroporto o teste a duzentos dólares... Vai dar uma merda violentíssima, aguardem....
O que sobrou de programa possível pra hoje foi ir jantar no Sujinho. Kansas City é notória pela tradição em churrasco, e esta é a mais tradicional das casas deles. Pra um brasileiro, confesso, não chegou a entusiasmar. Buracão distante, simplão, mas frequentado pelos famosos.


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