21/12 - Saint Louis
Minhas viagens costumam se organizar ao redor de um tripé de atividades que procuro incluir ao menos uma vez em cada uma delas. Porque três era um número importante pra Freud. Porque três são os filhos rachadeiros do capitão (os dois restantes ainda não iniciaram sua carreira neste quesito). Porque três é o número de mulheres que caberiam em cima de uma cama comigo antes de que esta fosse ao chão por mérito do peso adicional representado pela minha pança, que está em acelerado processo de recuperação nesta viagem.
A primeira delas, uma maratona, nem me ocorreu tentar acomodar, porque os destinos eram específicos e o tempo era pouco. Mas ainda assim, eu soube que havia acontecido uma maratona em Memphis parece que em novembro. O segundo, um parque de diversőes, até tentei, mas não vai vingar, com todos eles fechados por fim de temporada, como se aqui fosse o Canadá e estivesse fazendo 20 abaixo de zero. Indolentes de merda.
Mas pelo menos a terceira tradição consegui preservar hoje! Eu e Jesus Cristo temos uma trajetória assim meio Brokeback Mountain, na qual, por anos a fio, nos encontramos em algum lugar remoto e distante dos nossos conhecidos, para eu comer o corpo dele.
E hoje foi dia de dar aquele mordinha! Não tinha coral cantando na missa, nem música ao vivo, ou nada fora do mais absolutamente mecânico e entediado ritual, o que ajuda a entender por que tanta gente se bandeia pra alguma igreja evangélica, com um ritual bem mais vibrante e vivo do que este dos católicos. Mas, em compensação, durou só 25 minutos, e nem circulou a sacolinha! E é sempre um prazer incomensuável colocar Cristo na boca. Ou a boca em Cristo, sei lá.
Mas nem só de hóstia vive o homem, e tive também o latejante prazer de passar na frente de uma loja do Jack in the Box, extinto no Brasil desde meu gastronomicamente memorável fim de adolescência, com seu inesquecível taco mexicano e sua inigualável bomba de chocolate. O Jack seguiu uma trajetória que, por devoção a ele, devo ter decidido imitar: já foi grande um dia, mas depois foi perdendo a relevância, ficando pra trás, deixando de se renovar, até se tornar apenas uma triste memória de outros tempos. Aparentemente aqui nos Estados Unidos também foi assim, porque a última vez em que consegui comer em um Jack foi há uns 15 anos, no Havaí, e, desta vez, nem isto, porque os idiotinhas só estavam servindo pelo drive-thru e, sim, era necessário estar dentro de um carro para entrar na fila.
Então, não restou alternativa senão percorrer 6000 km para comer no... McDonalds. Mas, atualmente, é necessário percorrer estes 6000 km, ou ao menos dar um pulinho no Paraguai, para comer um McFish, desde que este foi retirado do cardápio de nossas lojas nacionais. Tirar o McFish do menu do McDonald's é como tirar o birigui do Alexandre Frota. Em ambos os casos o que resta é algo que, mais do que viver, meramente existe, desprovido daquilo que lhe dava alguma personalidade e distinção, mesmo assim, muito duvidosa. Como bufaria nosso deputado, agora antibolsonarista desde criancinha, enquanto se locupletava nas convexidades de um travesti, "ai, caralho!".
Ah, sim, teve também turismo. Volta ao arco sob a luz do sol, Museu de História do Missouri, e cinema a 10 dólares, sem possibilidade de meia entrada fajutada. Mas hoje a mocinha pediu pra mostrar o bilhete do metrô, então não me senti tendo desperdiçado dinheiro.
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